Viviane Mendonça - Vou de Bike e Salto Alto

A geógrafa e professora Viviane Mendonça, 39 anos, nascida em Lunardelli – PR, mas residente em Curitiba, casada e sem filhos, professora de geografia de uma escola pública, conta com muita paixão sua adesão à magrela há mais de dez anos. Ao pedalar, parou de fumar e emagreceu 20 kg, ou seja, a bicicleta transformou seu estilo de vida, com toda a certeza. Quem a vê circulando em sua bicicleta pelas ruas de Curitiba pode até imaginá-la pelas ruas de Paris ou de Milão. O cabelo curtinho e o estilo moderno elegante de Viviane combinam com roteiros de filmes europeus e cenários de cinema. Viajada, conhece vários continentes e, em boa parte destas viagens, a bike foi o propósito da empreitada ou o meio de locomoção para cumprir o itinerário. A maior mudança, segundo ela, foi no humor. Porém, os amigos mais próximos sabem que foi muito além disso. Viviane incluiu programas mais agradáveis, uma alimentação mais saudável e viagens inspiradoras na rotina do marido, dos amigos e dos familiares. Atualmente, ela assina a página ‘Vou de Bike e Salto Alto’ no Facebook, e tem um perfil no Instagram onde registra uma infinidade de belezas e detalhes do mundo dos ciclistas.



Vamos à conversa que tivemos com Viviane:

Como a bicicleta entrou em sua vida?

Viviane: A minha relação com a bicicleta começou aos 15 anos, quando questionada sobre querer debutar, respondi que não e que queria apenas uma bicicleta com cestinha.  Já adulta, quase 20 anos depois, comecei a pedalar aos domingos com grupos de amigos. Fazíamos trechos curtos pela região metropolitana de Curitiba de, aproximadamente, 30 km.

Mais tarde, essas trilhas se tornaram mais longas com 50 ou até 80 km, quando passei a conhecer meu corpo e meus limites. Descobri uma força em mim que não consigo explicar muito bem até hoje. Mais confiante, passei a fazer cicloturismo e 'carregar' a bike para todos os lugares possíveis de se pedalar. Lama e cansaço já não me derrubavam mais.  Então, há três anos, decidi levar essa minha experiência para o dia a dia da minha rotina. Comecei pedalando para o trabalho e depois fui adaptando a bicicleta a outros afazeres diários. Percebi, que nada é impossível até você tentar.

O que mais me intrigava era o fato de ter que pedalar todos os dias com aquelas roupas de ciclistas, e claro, a logística seria péssima: tira roupa, leva roupa na mochila, troca de roupa no trabalho! Não, assim eu não queria! Foi então que decidi ir pedalando do mesmo jeito que eu trabalho, ou seja, de bike e salto alto. E não é que funcionou (risos)?

Tive o privilégio de conhecer vários países e entender como os homens e mulheres de lá pedalam com roupas casuais. Então, pensei: porque não? E, a partir disso, tomei a iniciativa. Primeiro, fiz o trecho num domingo de manhã de casa até o meu trabalho. Estava acompanhada do meu marido, que sempre foi meu maior incentivador, apoiando minhas maluquices de bike, aliás, sem ele eu nunca teria tido coragem de fazer tudo o que faço, somos grandes companheiros unidos pela bicicleta. Na semana seguinte iniciei o que seria a minha liberdade e independência de ir e vir, já que não dirijo e não tenho carro. Minha rotina de locomoção pela cidade se resume em bike, ônibus, a pé ou de táxi, exatamente nesta ordem.

Como é a sua vida com a bicicleta? Participa de algum grupo? Que roteiros de cicloturismo já foram realizados e que sentimento provém desta prática?

Viviane: A bicicleta está presente em todas as áreas da minha vida. Faço trilhas todos os finais de semana e participo de algumas competições locais. Sou praticante de cicloturismo há mais de 10 anos, tendo feito alguns roteiros espetaculares como Chapada Diamantina, Chapada dos Veadeiros, Caminho de Santiago de Compostela, Trilha do Telégrafo (considerada a pior trilha do Brasil), Serra Gaúcha, Estrada Real e tantos outros pelo Brasil a fora.


Quando fazemos viagens tendo como meio de transporte uma bicicleta, a viagem muda totalmente de estilo, inclusive suas roupas, suas vaidades, bem como os lugares para comer e dormir. Mas, o principal, muda a forma de ver o consumismo maluco vivido por milhões de pessoas atualmente. Não que não goste deste perfil de viagem, mas através da bike a sua cabeça se transforma, você passa a olhar o mundo de forma mais simples e talvez a nossa vida, muitas vezes, necessite exatamente disso, de simplicidade. Sentir os aromas ao passar por uma estrada, identificar a comida daquele local ao passar por ali, observar as roupas nos varais, os cães adormecidos nos quintais, ou seja, a rotina de um povo local é muito interessante. Talvez, nestes pequenos detalhes você se transporte para outro mundo e se esqueça do celular, do WhatsApp, dos e-mails etc.

E, por fim, a bike transformou-se no meu meio de transporte. Vou ao trabalho, supermercado, aula de inglês, academia e outros afazeres diários com a minha magrela. Não dirijo, não tenho habilitação, não tenho carro e sou muito feliz assim. Participo de pedais semanais com um grupo de mulheres chamado ‘Gatas no Pedal’, no qual nos divertimos e podemos extravasar nosso estresse.

Eu nasci e cresci no interior, então, quando vim para cidade sentia falta do campo, pastagens, animais, do verde e de tantas outras coisas que fazem do campo um lugar especial. Mas, foi quando encontrei a bike que me dei conta de até onde ela poderia me levar. Passei a pedalar por Curitiba e região metropolitana e descobri que uma grande cidade não sobrevive sem as delícias e a simplicidade da zona rural. Pequenas coisas como colher uma fruta do pé, entrar em um rio no meio do caminho, correr dos cães (sim, eles nos atacam às vezes), pular porteiras, pedir água em casas desconhecidas. Ah, que delícia tudo isso, e sem contar o pó que comemos sempre! Você deve estar pensando: ela é louca né? Sabe que, às vezes, eu também me acho!


O que a bicicleta lhe proporcionou? Que precauções que você toma quanto à segurança ao pedalar pela cidade?

Viviane: Certamente meu humor e meu peso foram os grandes presentes. Já cheguei a pesar 20 quilos a mais que hoje, de 75 kg passei para 55 kg. Mas isso é passado. Primeiro, a bike mudou meu corpo, depois, mudou a minha cabeça, e hoje ela mudou a minha vida por completo. Tornei-me uma mulher mais bem-humorada, já chego pilhada para trabalhar, devido a ficar muito atenta nas ruas.

Passei a entender melhor o trânsito e, por isso, a respeitá-lo. Aprendi que tenho regras rígidas a serem seguidas e que ‘bancar a espertinha’ no trânsito pode tirar a minha vida ou a de outra pessoa. Quando estou na rua meu raciocínio é: ‘não faça nada que possa provocar a ira de um motorista ou um pedestre e mantenha-se sempre correta nas atitudes’.

Os cuidados com os assaltos ainda não descobri nenhuma fórmula mágica, infelizmente. Já com os motoristas apressados, a minha boa dose de educação e bom senso dizem para eu me manter correta em meus atos e, de preferência, não discutir no trânsito. Acredito que esse problema será resolvido com mais ciclistas nas ruas e educação através das escolas e órgãos públicos. ‘Bater boca’ na rua não vai nos levar a grandes resultados, acreditem.

Que dicas você daria às mulheres que querem começar a pedalar na cidade? E que mensagem você deixaria para elas?

Viviane: Eu costumo me preocupar com o visual na hora de pedalar, sim, e muito! Você não precisa andar 'fedidinha' e muito menos sem maquiagem só porque vai de bike. Visto-me exatamente como se fosse de carro ou de táxi, não deixo de usar nada que gosto, só porque vou de bicicleta. A partir do momento que entendi que isso era perfeitamente possível, ganhei as ruas imediatamente. Inclusive, acessórios dos mais diversos são muito bem-vindos para nós, mulheres ciclistas; isso deixa você e o trânsito mais leves e bonitos.


Uma das maiores vantagens é poder ir a muitos lugares de salto alto, o que provavelmente não conseguiria fazer andando a pé, principalmente por calçadas irregulares de minha cidade. Pronto, sonho realizado de ficar de salto o dia todo indo e vindo pelas ruas. E não se esqueça de um pouco de coragem e muita vontade de ser livre. A sensação do vento na ‘cara’ não tem explicação.

O tipo de bicicleta é importante. Se você vai para o trabalho, procure uma bike mais urbana e confortável, com os seguintes acessórios: cesta, que é ideal para carregar alguns itens que nós mulheres sempre temos à mão. Corrente protegida, para não ficar toda marcada de graxa. Lenço no pescoço é essencial pois, além de chique, ainda protege o nosso lindo pescoço. Ter uma capa de chuva na sua bike também é importante. Procure não utilizar mochilas, elas fazem com que você sue muito. Para utilizar salto alto no pedal é simples, você só precisa apoiar a parte da frente do sapato. Tome cuidado com saltos muito finos e muito altos, pois podem enroscar no pedal. Se quiser, comece com sapatilhas que, além de confortáveis, te darão estabilidade. Você vai se sentir mais confiante para divar pelas ruas, e depois vá experimentando outros saltos e adaptando à sua rotina. Lembrando que os saltos são para pedais mais curtos, trechos longos pedem tênis ou calçados mais apropriados. As dicas que estou dando são baseadas em minhas experiências, são para você deixar o medo e experimentar, se jogar mesmo. Depois você me conta lá no ‘Vou de bike e salto alto’.

Para começar, experimente bikes mais simples e com preços mais módicos. Caso você não se adapte, pelo menos não gastará tanto dinheiro assim. Mas, se caso você se viciar assim como eu, aí sim, procure algo do seu perfil e nunca mais pense em parar, porque você não irá conseguir!

Por Therbio Felipe
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