Esta reflexão não se atém ao 1º de maio, tão somente.
Ela se debruça sobre o fazer histórico de milhões de pessoas, como eu e você, que neste momento se valem da bicicleta como única forma possível de chegar ao trabalho ou ao local de estudo.
Olhe bem, não são usuários a lazer nem grupinhos bem vestidos e nutridos de bikers. E suas bicicletas, pasme, nem de longe são daquelas marcas de sonho. A bicicleta do trabalhador brasileiro é daquela marca famosa de bicicletas, a SRD, ou seja, Sem Raça Definida, montada com restolhos do que fora possível comprar e que ainda tenha uma sobrevida de dias ou meses.
Ainda que lá e aqui sejam contextos absolutamente diferentes, os usuários de ambos espaços têm na bike uma consorte para chegar, entre outros, às suas jornadas de trabalho. Não pretendo me ater às infinitas e esmagadoras diferenças sociais entre o Brasil e outros países.
O que nos concerne é perceber que, tendo a bicicleta como o único meio que lhe atenda para cumprir distâncias entre casa e trabalho de maneira economicamente viável, o trabalhador demandará a todo instante de estruturas cicloviárias que facilitem tais deslocamentos em segurança, ao contrário de obstaculizar.
Falamos desta forma porque é notório o déficit de transportes na quase totalidade dos mais de 5500 municípios brasileiros.
Neles, o transporte dito ‘público’ é privado, ou seja, o trabalhador precisa pagar aos prestadores de serviço, que em sua maioria fazem parte de cartéis empresariais e monopólios, que além de tratar o usuário como gado, elevam as tarifas sem justificativas plausíveis, não chegam ou saem no horário prometido, têm motoristas profissionais que mais parecem serial killers com habilitação, enfim.
O transporte público, no Brasil, é negreiro.
Estamos um tanto fartos de ouvir ‘que andar de bicicleta lá na Europa é que é legal’, porque isto corrobora nossa incompetência, além de buscar desculpas para não fazer acontecer o que o brasileiro merece.
Imaginamos que a bicicleta seja a resposta ao caos urbano, sobremaneira, que além de não levar ninguém a lugar algum, colabora para o agravamento de doenças cardiovasculares, psicológicas e relativas à obesidade, que assolam o país de norte a sul.
Nossa atividade ocorre no tempo do não-trabalho, no tempo do lazer ativo de milhares de indivíduos, mulheres e homens, que confiam a nós sua contemplação e desfrute acessando lugares de cultura e natureza.
Porém, reconhecemos que a relação entre a bicicleta e o trabalhador transcende o mero deslocamento, e isto necessita ser discutido aberta e tecnicamente, seja na escola, em casa ou no próprio ambiente laboral, o qual ainda oferece um enorme espaço ao estacionamento de veículos automotores individuais, e não trata com mesmo zelo de ofertar, com segurança, espaço para um bicicletário, ou um vestiário para que seus funcionários, que utilizam a bike, façam sua higiene.
Este é um debate de relevância e urgência, que necessita ir além das instâncias governamentais. Ele precisa ser feito lá em casa, com a família, lá no boteco ou no futebol com os amigos, enfim.
A bicicleta precisa fazer parte de nossas escolhas diante de cidades que clamam por humanização, por segurança, por uma lógica mais plural que, indistintamente, inclua a todos.
Feliz Dia do Trabalhador!
Por Therbio Felipe M. Cezar
Ela se debruça sobre o fazer histórico de milhões de pessoas, como eu e você, que neste momento se valem da bicicleta como única forma possível de chegar ao trabalho ou ao local de estudo.
Imagem Ilustrativa |
Sim, é de trabalhadores o maior contingente de usuários de bicicleta no país, quiçá no mundo. Basta assistir atentamente aos vídeos que nos chegam de vários lugares da Europa, por exemplo. Neles, vamos perceber mulheres e homens exercendo seu direito de ir e vir dignamente a fim de acessar a um outro exercício de cidadania, que é trabalhar com a mesma dignidade.
Olhe bem, não são usuários a lazer nem grupinhos bem vestidos e nutridos de bikers. E suas bicicletas, pasme, nem de longe são daquelas marcas de sonho. A bicicleta do trabalhador brasileiro é daquela marca famosa de bicicletas, a SRD, ou seja, Sem Raça Definida, montada com restolhos do que fora possível comprar e que ainda tenha uma sobrevida de dias ou meses.
Ainda que lá e aqui sejam contextos absolutamente diferentes, os usuários de ambos espaços têm na bike uma consorte para chegar, entre outros, às suas jornadas de trabalho. Não pretendo me ater às infinitas e esmagadoras diferenças sociais entre o Brasil e outros países.
O que nos concerne é perceber que, tendo a bicicleta como o único meio que lhe atenda para cumprir distâncias entre casa e trabalho de maneira economicamente viável, o trabalhador demandará a todo instante de estruturas cicloviárias que facilitem tais deslocamentos em segurança, ao contrário de obstaculizar.
Falamos desta forma porque é notório o déficit de transportes na quase totalidade dos mais de 5500 municípios brasileiros.
Neles, o transporte dito ‘público’ é privado, ou seja, o trabalhador precisa pagar aos prestadores de serviço, que em sua maioria fazem parte de cartéis empresariais e monopólios, que além de tratar o usuário como gado, elevam as tarifas sem justificativas plausíveis, não chegam ou saem no horário prometido, têm motoristas profissionais que mais parecem serial killers com habilitação, enfim.
O transporte público, no Brasil, é negreiro.
Estamos um tanto fartos de ouvir ‘que andar de bicicleta lá na Europa é que é legal’, porque isto corrobora nossa incompetência, além de buscar desculpas para não fazer acontecer o que o brasileiro merece.
Imaginamos que a bicicleta seja a resposta ao caos urbano, sobremaneira, que além de não levar ninguém a lugar algum, colabora para o agravamento de doenças cardiovasculares, psicológicas e relativas à obesidade, que assolam o país de norte a sul.
Nossa atividade ocorre no tempo do não-trabalho, no tempo do lazer ativo de milhares de indivíduos, mulheres e homens, que confiam a nós sua contemplação e desfrute acessando lugares de cultura e natureza.
Porém, reconhecemos que a relação entre a bicicleta e o trabalhador transcende o mero deslocamento, e isto necessita ser discutido aberta e tecnicamente, seja na escola, em casa ou no próprio ambiente laboral, o qual ainda oferece um enorme espaço ao estacionamento de veículos automotores individuais, e não trata com mesmo zelo de ofertar, com segurança, espaço para um bicicletário, ou um vestiário para que seus funcionários, que utilizam a bike, façam sua higiene.
Este é um debate de relevância e urgência, que necessita ir além das instâncias governamentais. Ele precisa ser feito lá em casa, com a família, lá no boteco ou no futebol com os amigos, enfim.
A bicicleta precisa fazer parte de nossas escolhas diante de cidades que clamam por humanização, por segurança, por uma lógica mais plural que, indistintamente, inclua a todos.
Feliz Dia do Trabalhador!
Por Therbio Felipe M. Cezar
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